19 outubro 2019

Salta borda fora


Não sei quão fundo te escondeste. Mas estás tão longe que não te vejo, só te sinto. Só. Como se fosse pouco sentir. "Mas estás tão longe que não te vejo, sinto-te.". Destrói-me o sentir. Só sentir, e não ver. Quem um dia disse que longe da vista iguala a estar longe do coração, mentiu. Não sei porquê é que persistes em ficar. Se não estás. Já disse que não te vejo? Aliás, vejo-te em todo o lado. Imagino-te agora sentado aqui comigo no sofá. Ao meu lado a ver-me escrever, a ver-me escrever para ti. Imagino um beijo teu, imagino um beijo acompanhado de um carinho e é aqui que se torna turvo. Porque te sinto, sinto o teu toque. Como se fosse real. Deixas-te em mim um bocadinho de ti. E quanto mais te escrevo mais percebo que tiveste de o fazer, como eu o fiz em ti, deixamo-nos ser juntos e fomos piores e melhores, e malucos e serenos, e puros e violentos, e perdidamente apaixonados. Mas, e todas as histórias de amor têm um mas (por mais que seja clichê evidenciar isto, faço-o), chega a uma altura em que por mais que dês tudo de ti, por mais que insistas em ver bom no mau, simplesmente não dá mais. Estagnou. Os cordelinhos que tu podias puxar já gastaram, o barco parou, salta borda fora.

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